Detox digital: quando se desconectar significa cuidar do cérebro
- Helen Pomposelli
- há 4 horas
- 3 min de leitura
Cada vez mais pessoas estão optando por se afastar temporariamente, ou até de forma definitiva, das redes sociais. O movimento, que ganhou força nos últimos meses, não é apenas uma tendência, mas reflexo de um esgotamento real provocado pela hiperconectividade. Em média, os brasileiros passam 9 horas e 13 minutos por dia na internet, de acordo com o Relatório Digital 2024, produzido pela We Are Social.Segundo o neurologista Dr. Frederico Mennucci de Haidar Jorge, do Hospital Santa Catarina - Paulista, essa pausa é benéfica para o cérebro e para a mente. “Esse movimento ajuda na saúde mental e neurológica, porque faz uma limpeza desse hiperestímulo do circuito de dopamina e permite uma volta ao tempo analógico. As pessoas finalmente estão percebendo o quanto essa vida mergulhada na tecnologia satura, estressa e desgasta”, explica. O uso excessivo de celulares e redes sociais ativa de forma contínua o sistema de recompensa do cérebro, responsável pela liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer. Esse estímulo constante interfere nos mecanismos de atenção, emoção e sono. O resultado é um estado de ansiedade e inquietação quase permanente. “Os vídeos curtos, como os de TikTok ou Reels do Instagram, sequestram a atenção e fazem o cérebro entrar em um ciclo de expectativa. A pessoa fica esperando algo interessante, e quando volta à rotina, tudo parece menos excitante, o que aumenta a frustração e a ansiedade”, diz o especialista. Estudos confirmam os efeitos positivos de reduzir o tempo de tela. Uma pesquisa publicada em 2025 na revista BMC Medicine mostrou que limitar o uso de smartphones a duas horas por dia durante três semanas melhorou significativamente o bem-estar, o sono e reduziu sintomas depressivos e de estresse. Outra revisão científica, divulgada em 2023 no PubMed, aponta que reduções graduais no uso de dispositivos trazem resultados mais sustentáveis do que interrupções bruscas. De acordo com o especialista do Hospital Santa Catarina - Paulista, o uso exagerado das redes sociais também está diretamente ligado à dificuldade de concentração, à procrastinação e à queda no desempenho cognitivo. O consumo contínuo de informações fragmentadas e estímulos visuais rápidos exige um esforço constante do cérebro para alternar o foco entre diferentes conteúdos, o que acaba desgastando a atenção sustentada.“As redes sociais consomem energia mental e reduzem o foco nas próprias tarefas, uma vez que o cérebro é recompensado instantaneamente por likes, notificações e novidades, em detrimento da realização de atividades reais, que demandam mais tempo e paciência. Esse mecanismo de recompensa imediata interfere na capacidade de planejar e concluir tarefas do dia a dia e traz prejuízos para o indivíduo”, revela o Dr. Mennucci. O que fazer? O segredo está no uso consciente da tecnologia. O especialista recomenda: - Reservar horários específicos do dia para checar redes sociais; - Evitar o celular durante atividades como refeições, estudos, conversas ou momentos de descanso; - Desativar notificações e avisos; - Deixar o celular longe do quarto à noite; - Criar espaços livres de tecnologia; “O ideal é usar a tecnologia em blocos de tempo, e não misturar com o cotidiano. Assim, o cérebro consegue se reorganizar e manter um ritmo mais saudável”, orienta. Um dos sinais de alerta é o chamado “loop digital”, quando a pessoa percebe que está abrindo o mesmo aplicativo várias vezes em poucos minutos. Esse comportamento indica que o uso do celular já se tornou automático, e nesse momento é fundamental interromper o ciclo e fazer uma pausa real. Por fim, o neurologista do Hospital Santa Catarina - Paulista ressalta que mais do que eliminar aplicativos, o detox digital propõe uma nova forma de relação com o mundo virtual, uma reconciliação entre o tempo online e o tempo real. Reaprender a se desconectar, ainda que por algumas horas ao dia, pode ser o primeiro passo para reconquistar foco, tranquilidade e qualidade de vida. Longe de ser um luxo, a prática é uma forma moderna (e necessária) de higiene mental.
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