Meu Primeiro bordado do mundo: conheça as poesias de Flávia Muniz
Todo dia é motivo para ler poesias e se inspirar nas formas criativas de ver a vida. A poesia nos ensina a ampliar nosso olhar ao redor do mundo. Falamos com Flávia Muniz, autora do livro Meu primeiro bordado, que nos revelou formas simples e verdadeiras de ver o feminino através de sua busca pelo autoconhecimento e espiritualidade. " O livro Meu primeiro bordado é uma reunião de poesias onde busco me conhecer na escrita. Os poemas tem uma forte ligação com a terra e a ancestralidade. Busquei uma forma de costurar dentro de mim mesmo as linhas que me fazem ser algo maior pela vida".
Segundo Flávia, sua obra fala também sobre uma relação da escrita com o tempo. "O primeiro capitulo é o Tecidos, onde eu brinco com o significado da palavra tecido como pano e como partes do corpo. O segundo capitulo é o Ponteados e tem um olhar mais amplo e o terceiro capitulo e ultimo se chama O meu primeiro bordado de Mundo e é um grande poema que fala sobre a busca de si mesmo e de alinhavar a nossa vida", diz.
Flávia nos ofereceu algumas poesias para nos inspirar:
ÚTERO
Meu dizer é água.
Lava a terra.
É sangue e silêncio,
natureza mamífera,
Matéria-prima dos sentidos.
Nos dialetos antigos,
Meu dizer é vivo.
É lago para a calmaria dos monges.
É fonte para a fúria dos sábios.
Eco no anteparo
deslocado no tempo
meu dizer é vento
flor do âmago
relicário de encantos
tesouro em latência.
Meu dizer é útero.
Ao gestar amanhãs
Sou mãe de utopias.
OVÁRIOS
Quando nasci me chamavam de princesa,
depois menina,
mais tarde: moça.
Fui crescendo
entre ciclos femininos
e o silêncio das minhas antepassadas
em transmitir o que é ser mulher:
fortaleza
para além das fendas penetráveis,
ciclos lunares
movendo o fluxo do mundo
e o remexer dos mares.
OUTROSSIM
Amo nua e calada
o tempo que me dilacera a palavra,
a noite prata dos vocábulos em desuso.
Outrossim,
a lua que me deixa atônita
e algum vestígio de saudade
sem objeto de desejo.
Amo a mulher que sou.
ÁGUA VIVA
Água viva,
acende a boca da poeta,
alumia o corpo do poema,
reluz o ventre da palavra.
Transparece,
água viva,
tudo
para além do que se vê
para que
o que se vê
seja extensão
do mesmo mar que é
Meu primeiro bordado de mundo nasceu de alinhavos e ornamentos. A escrita é marcada pelo mergulho da autora em suas próprias águas, por texturas do fazer manual e pelas andanças até encontrar a sua voz. É na poesia que Flávia se reconhece peregrina ao pastorear ovelhas que lhe oferecem lãs. Dos altos montes às vastas planícies, o corpo vivente se desloca no fio espiral do tempo. Eis a precisão da palavra de quem se tece ao cantar. Ao casear as próprias vestes, a autora revela os passos neste manual de tecelagem.
(Zinumai Valf)
Flávia Muniz Cirilo é cantora, compositora, poeta, filha das águas e aprendiz de pássara. Tem 6 livros publicados e participação em 3 coletâneas. Gravou 3 álbuns como vocalista da banda Luisa Mandou um Beijo, lançou 5 álbuns em carreira solo e criou o podcast Frutífera, onde expande sua música, sua escrita e sua visão de mundo. Biografias não descrevem a infinitude dos sonhos. É a poesia que nos inscreve no tempo. Somos emissores de anjos. O livro foi editado através de uma parceria com a Editora BR75 e o selo Edite e pode ser encontrado na versão e-book, disponível na Amazon, Fnac, Livraria Cultura, Google books, Kobo, Ubook.
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